18 julho 2011

A banda

A banda
  
                                         Chico Buarque de Holanda

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor...

Essa música conquistou o primeiro lugar do II Festival de Música Popular Brasileira, ao lado de Disparada, de Théo de Barros e Geraldo Vandré. O poeta Carlos Drummond de Andrade elogiou A banda escrevendo a seguinte crônica:

    "O jeito no momento é ver a banda passar, cantando coisa de amor. Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando.
     A ordem, meus manos e desconhecidos meus, é abrir a janela, abrir não, escancará-la, é subir ao terraço como fez o velho que era fraco mais subiu assim mesmo, é correr à rua no rastro da meninada, e ver e ouvir a banda que passa. Viva a música, viva o sopro de amor que a música e a banda vêm trazendo, Chico Buarque de Holanda à frente, e que restaura em nós hipotecados palácios em ruínas, jardins pisoteados, cisternas secas, compensando-nos da confiança perdida nos homens e suas promessas, da perda dos sonhos que o desamor puiu e fixou, e que são agora como o paletó roído de traça, a pele escarificada de onde fugiu a beleza, o pó no ar, a falta de ar.
     A felicidade geral com que foi recebida essa banda tão simples, tão brasileira e tão antiga na sua tradição lírica, que um rapaz de pouco mais de vinte anos botou na rua, alvoroçando novos e velhos, dá bem a ideia de como andávamos precisando de amor. Pois a banda não vem entoando marchas militares, nem a festejar com uma pirâmide de camélias e discursos as conquistas da violência. Esta banda é de amor, prefere rasgar corações, na receita do sábio maestro Anacleto de Medeiros, fazendo penetrar neles o fogo que arde sem se ver, o contentamento descontente, a dor que desatina sem doer, abrindo a ferida que dói e não se sente, como explicou um velho e imortal especialista português nessas matérias cordiais.
     Meu partido está tomado. Não da Arena nem do MDB, sou desse partido congregacional e superior às classificações de emergência, que encontra na banda o remédio, a angra, o roteiro, a solução. Ele não obedece a cálculos da conveniência momentânea, não admite cassações nem acomodações para evitá-las, e principalmente não é um partido, mas o desejo, a vontade de compreender pelo amor, e de amar pela compreensão.
    Se a banda sozinha faz a cidade toda se enfeitar e provoca até o aparecimento da lua cheia no céu confuso e soturno, crivado de signos ameaçadores, é porque há uma beleza generosa e solidária na banda, há uma indicação clara para todos os que têm responsabilidade de mandar e os que são mandados, os que estão contando dinheiro e os que não o têm para contar e muito menos para gastar, os espertos e os zangados, os vingativos e os ressentidos, os ambiciosos e todos, mas todos os etcéteras que eu poderia alinhar aqui se dispusesse da página inteira.
     Coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las, distribuí-las, começando por querer que elas floreçam. E não se limitam ao jardinzinho particular de afetos que cobre a área de nossa vida particular: abrangem terreno infinito, nas relações humanas, no país como entidade social carente de amor, no universo-mundo onde a voz do Papa soa como uma trompa longíngua, chamando o velho fraco, a moça feia, o homem sério, o faroleiro... todos os que viram a banda passar, e por uns minutos se sentiram melhores. E se o que era doce acabou, depois que a banda passou, que venha outra banda, Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de musicar a alma da gente".



14 julho 2011

Muito mais

Sou aquilo que você vê naquilo que não vê...
Mais do que simples emoção...
Além de toda razão!
Instruída para o amor...
Moldada para amar!
Há em mim abismos e pontes...
Estradas e mares!

Sou a profundidade do ser complexo...
A leveza do pássaro a voar.
A multidão de sonhos
           
                      flutuantes no ar.

A alegria da realização
em meio a ficção! 


Um olhar desajeitado 
em busca de um retrato.
Sou agonia, sou infinito.
Mais do que você vê.



Midi Mafra

04 julho 2011

Poesia inspira jóias...

Tive a grata oportunidade de conhecer o catálogo de jóias da designer Valéria Françolin. E fiquei maravilhada com a beleza do seu trabalho. Poemas são a inspiração. Valéria afirma que “assim como a poesia, a joalheria é engenho e arte, emoção e construção”. Segundo ela, a inspiração "não surge, ataca". E a primeira peça de sua coleção não poderia ter outro nome senão Poesia.

Vejamos um pouco de sua arte:

Levo-me, mas deixo as crises, os embates
entre o que sei e o que sou. Deixo as culpas

Vou só com o céu. Vou comigo e sem mim
Carmen Vasconcelos




improvis
ar
até o
que se
respi
ra
Adriano de Sousa



Por isto me fiz pedra:
para que Deus se afie.
Carmen Vasconcelos



Nem a delicadeza das harpas,
nem a fúria dos arpões.
Ninguém dentro de mim me anima
a desafiar o acabar das coisas.
Carmen Vasconcelos




25 junho 2011

Fé...

Fé é acreditar que a calmaria virá mesmo em meio a tempestades...crer que Deus moverá céus e terra para te fazer feliz! E mandará o teu sustento mesmo quando a terra estiver seca...e molhará o teu coração com águas purificadoras para que a tua alma se encha de gozo. Fé é a certeza do que virá, mesmo sem saber o que está por vir....Fé é se lançar ao mar e andar sobre ele...fé é encontrar a saída quando todas as portas estão fechadas...é enxergar além do que os olhos podem ver!!! Fé é acreditar que acima de todas as coisas existe um Deus que mesmo em silêncio está a te falar! 

Por tudo isso, "...ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado;Todavia eu me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas". (Habacuque 3.17-19).



Compasso do teu abraço

Navegar em teu olhar
Sentir a brisa acariciar meu cabelo
Envolver-me na beleza do luar
Nadar, voar, andar...

Enconder o cheiro no frasco
Enquanto as flores flutuam no espaço
Refrescar-me ao som dos pássaros
Voar, andar, nadar...

Bailar nas cordas do teu coração
Descobrir os passos do teu cansaço
Passear nas nuvens do teu sorriso
Andar, Nadar, Voar

E te amar...

Midi Mafra

24 junho 2011

Cinzas de uma história

O dia termina. A escuridão invade um coração cheio de lembranças e saudades. Uma época que se foi. Um momento que não volta mais. Tantas palavras ditas. Carinho feito na alma. Foi assim que, numa tarde de domingo, a história mudou. Rute havia acabado de chegar da sorveteria e encontrou-se com a notícia que para sempre mudaria a sua vida. O seu grande amor havia partido. Suas vidas foram separadas por um simples capricho do destino. Ele arrumou as malas e se foi. Para sempre. Ela, imersa em lágrimas, enterrou-se no mais profundo desespero. Olhava para trás e só via cinzas. Rabiscos de uma história que acabava ali. Numa tarde de domingo.

Midi Mafra

Te amo

Te amo simplesmente porque te amo!

Aproveitem para degustar um pouco mais de poesia...Te amo, de Pablo Neruda.

Talvez


Talvez 
                           
                                Pablo Neruda


Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos... 

25 maio 2011

Oração - a banda mais bonita da cidade

     Na última semana, mais de dois milhões de pessoas acessaram o vídeo da banda mais bonita da cidade. O diretor teatral curitibano Leo Fressato, de 24 anos, compôs a música Oração em 2008, para expurgar um amor mal resolvido e, segundo ele, “para que as pessoas pudessem cantar junto, mas jamais imaginaria que fossem tantas pessoas”.
     A canção acontece em um tempo mais ou menos de seis minutos. Numa casa, aproximadamente 20 jovens celebram a simplicidade de um encontro ao som da canção que aborda a complexidade de um coração em que cabe “o que não cabe na despensa, cabe no meu amor”. Começa com o singelo, e um tanto desafinado, solo de Fressato. À medida que o rapaz se desloca pela casa, vai conseguindo amigos, instrumentos e olhares entre os corredores, todos ao som da mesma canção. No fim, tudo é festa e alegria, com direito a confetes e um cachorrinho no colo do baterista. 

Vale a pena conferir esse sucesso:

Mary did you know? - Gaither Vocal Band

 

Essa é uma das mais lindas canções que já ouvi. Mary did you know?, música da Gaither Vocal Band, fala, de maneira simples e graciosa, sobre o Salvador Jesus. Em Seu infinito Amor, o próprio Deus se fez homem, habitou no meio de nós e demonstrou todo o Seu cuidado através de gestos, palavras e olhares. Espero que ela toque em seu coração assim como tocou o meu.

Seguem vídeo, letra e tradução:

Mary Did You Know?

Maria você sabia?




Mary did you know that your baby boy,
   Maria você sabia que seu bebê menino,
Will one day walk on water?

   Um dia andará sobre as águas?
Mary did you know that your baby boy,

   Maria você sabia que seu bebê menino,
Will save our sons and daughters?

   Salvará nossos filhos e filhas?
Did you know that your baby boy,

   Você sabia que seu bebê menino,
Has come to make you new?

   Veio para te renovar?
This child that you’ve delivered,

   Esta criança que você deu à luz,
Will soon deliver you.

   Um dia vai te libertar.

Mary did you know that your baby boy,
   Maria você sabia que seu bebê menino,
Will give sight to a blind man?

   Dará visão a um homem cego?
Mary did you know that your baby boy,

   Maria você sabia que seu bebê menino,
Will calm a storm with His hand?

   Acalmará uma tempestade com Suas mãos?
Did you know that your baby boy,

   Você sabia que seu bebê menino,
Has walked where angels trod?

   Andou onde os anjos pisaram?
When you kiss your little baby,

   Quando você beija seu pequeno bebê,
You’ve kissed the face of God?

   Você está beijando a face de Deus?

The blind will see,
   O cego verá,
The deaf will hear,

   O surdo ouvirá,
And the dead will live again.

   E o morto viverá novamente.
The lame will leap,

   O coxo saltará,
The dumb will speak,

   O mudo falará,
The praises of the Lamb!

   Louvores ao Cordeiro!
Mary did you know that your baby boy,
   Maria você sabia que seu bebê menino,
Is Lord of all creation?

   É o Senhor de toda criação?
Mary did you know that your baby boy,

   Maria você sabia que seu bebê menino,
Will one day rule the nations?

   Um dia dominará as nações?
Did you know that your baby boy,

   Você sabia que seu bebê menino,
Is Heavens perfect Lamb?

   É o perfeito Cordeiro do Céu?
This sleeping child you’re holding,

   Esta criança adormecida que você segura,
Is the Great I AM!

   É o Grande Eu Sou!

22 maio 2011

Calem a boca nordestinos!!

Texto de: José Barbosa Júnior.
www.crerepensar.com.br

Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!

Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?

Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?

Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?

Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial  Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!

E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.

Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.

Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura…

Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner…

E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia…

Ah! Nordestinos…
Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?

Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.

Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!

Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!

Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário… coisa da melhor qualidade!

Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso… mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!

Minha mensagem então é essa: – Calem a boca, nordestinos!
Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.

Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.

Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”

Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!