25 junho 2012

O que você quer saber de verdade - Marisa Monte


Bom que o tempo passa...
Bom que as folhas caem...
Bom que a dor se desfaz...
Bom que nada é igual,
que tudo novo se faz, se refaz...
Bom que a vida segue em frente
e não volta atrás!


O que você quer saber de verdade - na voz de Marisa Monte

Vai sem direção

Vai ser livre
A tristeza não
Não resiste
Solte os seus cabelos ao vento
Não olhe pra trás
Ouça o barulhinho que o tempo
No seu peito faz
Faça sua dor dançar
Atenção para escutar
Esse movimento que traz paz
Cada folha que cair,
Cada nuvem que passar
Ouve a terra respirar
Pelas portas e janelas das casas
Atenção para escutar
O que você quer saber de verdade






22 junho 2012

Por que deixei de crer em Deus e como estou voltando a crer nele (Liesel Hoffmann)


Não sou brasileira, mas sou quase. Meus pais Alfons e Helga saíram de Hamburgo em abril de 1990, quando meu irmão Wolfgang e eu éramos crianças de 10 e 3 anos, respectivamente, e se instalaram em Salvador, Bahia. Desde Hamburgo meus pais eram luteranos, e mantiveram a religião na Bahia, apesar da forte presença católica e das religiões afro-brasilienses. Cresci ouvindo falar em Deus como um controlador do universo, a quem os seres humanos devem obediência e medo. Sempre ouvia falar na igreja que Deus é quem permite ou proíbe que as coisas aconteçam em nossa vida. Me lembro de uma vez num sermão o reverendo comparar Deus a um controlador de voo, responsável por manter os aviões no ar. Nesse dia me lembro de ter falado ao meu pai: mas os aviões caem…
Crescemos e fomos para o bairro da Moóca, em São Paulo, sempre com a visão de Deus como o controlador do Universo. Eu, por ter ido para o Brasil bem nova não tive muitos problemas com o idioma, ao contrário de meu irmão que, assim como meus pais, não entendiam o uso dos artigos e pronomes com substantivos masculinos e femininos, o que os levava a falar coisas com “meu casa”, “meu mãe”, “minha pai”, “a namorado de meu irmã”, “meu cunhada” e coisas assim, o que sempre era motivo de piada entre os amigos brasileiros.
Em 2004, meu irmão resolveu fazer faculdade. Aos 24 anos achou que poderia seguir carreira em São Paulo mesmo, já que meus pais não pensavam em voltar para a Alemanha e ele também não tinha o menor interesse em voltar. Se sentia muito bem no Brasil. Nós no sentíamos bem. Iniciou, em fevereiro, o curso de Publicidade e Propaganda no Presbiteriano Mackenzie, uma das melhores faculdades de São Paulo. Havia acabado de adquirir um carro. Tinha uma belíssima namorada brasileira, que era modelo na época. Ele estava muito feliz com a vida. Falava que era um “quase brasileira”, e fazia os amigos rirem com isso. Meu irmão e eu nos dávamos muito bem. Ele era meu melhor amigo e eu era a melhor amiga dele, a ponto de confidenciarmos um com o outro coisas que nem nossos pais sabiam. Ele me ensinou a dirigir e eu o ensinava a falar português. Nós nos amávamos muito. Eu o tinha como um herói, e ele me via como uma boneca de porcelana, com ele mesmo dizia.
No dia 27 de maio de 2004, ao sair da faculdade, meu irmão foi abordado por três homens que o mandaram entregar o carro. Sem esboçar qualquer reação meu irmão lhes entregou a chave e se afastou. Ao entrar no carro, um dos homens acertou meu irmão com um tiro que foi fatal: na mesma hora ele caiu morto em frente a faculdade. Naquele dia eu perdia uma das pessoas mais importantes da minha vida: Wolfgang Rudolph Jung Hoffmann, o Wolf, meu irmão a quem eu tanto amava, que morreu aos 24 anos. A família entrou em crise: meus pais se desesperaram, meus tios pensaram em fazer justiça com as próprias mãos. Mais ainda: minha crença em Deus se esvaziou por completo. Eu, uma adolescente de 17 anos totalmente descrente de Deus. Me lembro de ter dito: que Deus controlador é esse que permite um rapaz tão cheio de vida como meu irmão morrer de uma forma tão injusta? Ninguém me respondia. Na catedral luterana o reverendo dizia apenas: “deus quis assim”. Quis assim como? Ele fica feliz com a desgraça da família dos outros? Onde fica o tal amor que a Bíblia tanto fala?
Para encurtar a história, nos mudamos para o interior de SP em 2004 mesmo e em 2005 voltei para São Paulo, para morar sozinha e iniciar minha vida com meus próprios braços. Em dezembro de 2009 minha família resolveu voltar para Hamburgo, Alemanha. O Brasil, essa terra abençoada de gente alegre, era doloroso demais para minha mãe, que lamenta por ter passado uma tragédia tão grande num país tão bonito. E eu que não tinha nada a perder voltei também, mas agora para Berlin, onde vivo hoje.
Desde que meu irmão se foi perdi totalmente a fé em Deus. Fiquei depressiva. Precise de acompanhamento psiquiátrico. Tive crises emocionais. Tinha momentos terríveis em que precisava ser socorrida por estar em uma crise nervosa. Me lembro de um dia, já em Berlin, durante uma crise emocional onde eu gritava de desespero eu dizer: dá pra sair da minha vida, Deus? Você já me trouxe prejuízos demais. E assim vivi. Não queria correr o risco de crer num Deus que eu pensava proteger os que amo e ter de conviver com novas tragédias.
Agora, depois de viver e estar totalmente estabilizada aqui, começo a ver Deus de uma outra forma. Li o livro de um teólogo chamado Jurgen Moltmann e venho lendo algumas coisas sobre Deus escritas  por alguns líderes religiosos brasileiros. Um deles é o reverendo Ricardo Gondim, da Igreja Betesda em São Paulo. Estou descobrindo uma outra forma de ver Deus: ele não tem nada a ver com os acontecimentos humanos. Deus não controla nada, mas ama os seres humanos e lhes apoia nos momentos difíceis. Há alguns dias atrás, depois de ouvir um dos sermões do rev. Gondim pela internet cheguei à conclusão: Deus não teve nada a ver com a morte do Wolf, pois ele não permitiu nada, mas foi ele quem me ajudou a aguentar viva quando eu tentei tirar minha vida 15 dias após a morte dele. Comecei a chorar na hora. Pedi perdão a Deus por te-lo culpado pelas desgraças da minha vida. Espero que ele me perdoe por isso!
Ainda tenho várias dúvidas sobre Deus. E até hoje não me recuperei do trauma da morte do Wolf, mas aos poucos as coisas estão se encaixando. Mas independente de uma coisa e outra agora estou me sentindo melhor comigo mesma. Hoje faz exatamente 8 anos que meu irmão se foi, e é o primeiro ano que passo o dia inteiro sem qualquer crise depressiva. Ainda relembro a cena que vi quando cheguei em frente à faculdade, mas lido melhor com isso. Entendo que todos estamos sujeitos à tragédia.
Espero que esse texto seja mais um passo rumo à cicatrização dessa ferida tão dolorosa.
Texto extraído do blog: http://deutschbrasilien.blogspot.com.br

20 junho 2012

Um segredo e um amor - na voz de Jorge Vercillo


Um segredo e um amor
O que será maior em mim
O segredo desse amor
Não pode mais viver assim...
Se eu pudesse revelar
Os versos que eu te dediquei
Se eu pudesse te contar
Os sonhos todos que sonhei...
Se eu gritasse
Para o mundo ouvir
Até onde a voz pudesse ir
Eu não seria um sonhador
E nem mais um segredo
Meu amor!...

Dedilhada

Ou o céu ou o chão
Nunca vejo o meio
Qual a razão
De ser o meio termo
Na minha mão
Guardo o meu destino
Eu abro e vou

Eu só sei que não quero viver
Uma vida dedilhada
Cansei de pensar demais
E os erros meus
Não são iguais aos erros 
Que deixei pra trás
E aqueles velhos medos
Não assustam mais

Meus passos vão
Firmes no caminho
Em direção ao que não foi escrito
Intuição sopra em meu ouvido
Escuto e vou

Eu só sei que não quero viver
Uma vida dedilhada
Cansei de pensar demais
E os erros meus
Não são iguais aos erros 
Que deixei pra trás
E aqueles velhos medos
Não assustam mais





Tudo que é sólido desmancha no ar



Os dias são tão iguais,
sem cores...
Seguindo em frente
mas correndo sempre para trás!


Por que tanta inconstância?
Parece que não há destino!
A vida para!
Nada é igual...


Tudo o que se acreditava
vai com o rio
deixando suas marcas
e desaguando em algum lugar!


Toda escolha gera uma frustração
A vitória também é uma derrota...
Tenta-se acertar,
e erra-se tentando!


Que o fim seja o caminho,
percorrendo as trilhas do agora...
E o ontem seja uma espera
na janela do amanhã!


Midi Mafra

18 junho 2012

O tapeceiro - Stênio Marcius

"Sou um pecador salvo pela Graça de Deus!"


Vejam o vídeo... ele fala por si só!!




A verdadeira religião

“ A religião pura e verdadeira para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” 
(Tiago 1:27)



     A palavra religião vem do latim religionis, que deriva do verbo religare, que significa re-ligação, ou seja, re-ligar, ou simplesmente, ligar de novo. No sentido doutrinário, religião refere-se ao fato de estarmos nos religando a uma divindade, no caso, Deus. Vale ressaltar que esse ligar-se a Deus só é possível através de Jesus Cristo, tendo em vista que Ele é o Caminho que nos leva ao Pai (João 14.6). 
     Diante de tantas doutrinas espalhadas pelo mundo, fica a seguinte pergunta: qual a religião verdadeira? O que Deus espera de sua igreja? A resposta não está em uma lista de regras e normas de diferentes instituições religiosas.  Mas, numa postura de obediência ao maior mandamento pronunciado e vivido pelo próprio Cristo: o Amor.
      Tiago ressalta que não basta acreditarmos em uma religião se nós não a praticarmos. É preciso não apenas falar do Amor mas também vivenciá-lo!! Como anunciar que Jesus é o Pão da vida a quem tem fome de pão material? De que forma aquele que tem sede de água compreenderá que Cristo é a fonte de Água Viva?? As nossas palavras precisam ser confirmadas em nossas ações. Por isso, precisamos nos sensibilizar com as necessidades do nosso próximo e, assim como o Messias, alimentar os famintos, cuidar dos necessitados, estender a nossa mão...
     Oro para que eu viva o Amor de Deus no meu dia-a-dia... que eu consiga enxergar a carência do outro e ajudá-lo... que a minha vida seja reflexo da vida do meu Mestre.  Que eu viva, pois, o Amor de Deus em meu caminhar!!




Sofrimento


     O sofrimento pode ser o caminho através do qual chegamos às nossas verdades. A estrada pela qual chegamos à maturidade atravessa, necessariamente, a escuridão e a solidão. A escuridão, porque sofrer implica perder as referências, desdenhar das explicações, questionar os clichês e aventurar perguntas. A escuridão é o momento quando não caminhamos porque vemos, mas porque intuímos, recordamos e temos fé. Intuímos o rumo certo pelo tanto que já caminhamos, recordamos as experiências aprendidas em momentos semelhantes no passado e andamos por fé, que supera as trevas, prescinde de explicações e transcende as certezas.
     A solidão é imprescindível na trilha do sofrimento. A dor pode ser compartilhada, mas jamais transferida. Pode ser percebida, mas não capturada. Pode até ser escondida, mas nunca suprimida. Quem sofre, sofre sempre em solidão. Não necessariamente porque lhe falta boa e providencial companhia, mas porque todo sofrimento pessoal, em sua dimensão mais profunda e essencial, é intransferível. O sofrimento tem sua realidade particular, e não pode ser diferente: cada um sofre por uma razão, é vitimado em áreas distintas, por motivos diversos e com respostas as mais variadas, num dégradé de resiliência que vai da meninice do chororô ao heroísmo quase estóico, incluído entre os tons das cores a grandeza da fé, resignada e esperançosa, e por isso engajada e mobilizadora.
    O sofrimento desperta para o ético e o estético. Convoca virtudes adormecidas a que subam ao palco: coragem, perseverança, paciência, honradez, respeito à vida. Possibilita o lapidar do caráter, apara arestas, harmoniza as formas, faz irromper a beleza escondida na frieza do coração. O sofrimento quebranta orgulhosos, vaidosos e prepotentes, faz desmoronar intransigentes, legalistas e moralistas. Como o martelo do escultor, retira os excessos da pedra e dá à luz o belo, o sublime, o deslumbrante.
   Quem sofre descobre seus limites, identifica verdadeiras amizades, vislumbra novos horizontes, abre a mente para novas verdades e o coração para novos amores. O sofrimento produz compaixão, evoca misericórdia, gera solidariedade. O sofrimento cria caminhos para arrependimentos e confissões, subverte juízos e sentenças, possibilita aproximações e reconciliações.
     O sofrimento coloca homens, mulheres, velhos e crianças, de joelhos. Faz com que os olhos procurem os céus. Dilata a alma para o mistério, conclama o espírito para o inefável, inspira poesias e canções, faz surgir nos lábios o perfeito louvor. Quem sofre aprende a perdoar e pedir perdão. Ganha a oportunidade de colocar o rosto no chão, em clamor e oração. O sofredor jamais chora em vão. Deus habita também a sombra e a escuridão.
     O sofrimento é o ônus do viver, o custo do amor, a paga pelo crescimento, o preço da maturidade. Viver é muito perigoso, já dizia Guimarães. Amar é muito precioso. Crescer é muito doloroso. Amadurecer é muito custoso. Crer é coisa de teimoso. O sofrimento diminui o poder da morte, dissolve a crueldade da indiferença, envergonha a pequenez da alma, desmascara o mundo de mentirinha da ingênua infância, quebra a maldição da incredulidade. Aceitar a realidade e inevitabilidade do sofrimento é escolher a vida, decidir amar, optar pela plenitude, apostar na fé.

Texto extraído do blog de Ed René Kivitz: http://edrenekivitz.com/blog/